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domingo, 5 de julho de 2009

Eleições - parte II




Sei que já é tarde, já se passaram semanas sobre o assunto, mas não posso deixar em branco as nossas fantásticas eleições europeias. E tenho tanta ideia na cabeça, tanta coisa por onde começar que as coisas se me embaralham, em novelos mal feitos e, não sei por onde principiar.
Antes de mais parabéns ao justo vencedor. Foi espantoso e confesso que não estava à espera de tal resultado. Desde logo porque achava que os portugueses não iam muito à bola com Rangel. Mas vai-se a ver, e também eles, como eu, não foram muito à bola com Vital Moreira, um incompreendido, um pobre senhor atirado para os meandros da politiquice, para os debates malandros. É evidente que o excelso Professor teria graves dificuldades em afirmar-se.
Repare-se. Falo com conhecimento de causa. Foi meu professor durante um ano. E era aterrorizador. Esmagava-nos com a sua sabedoria. Entrava na sala, abria da sebenta e vá de falar, mandando piadas que nem todos compreendíamos (eu só me ria 10 minutos depois), lançando ironias finas, sem nunca nos olhar nos olhos (sempre em frente para não haver abusos de confiança) e com uma agenda tão fantasticamente ocupada que mal acabavam as aulas, ainda nem tínhamos tempo de digerir a informação, já ele tinha fugido, nada de dúvidas, os meus assistentes encarregam-se dessas ninharias. Uma vez pensei fazer-lhe uma espera mas tive tanto medo que não concretizei os meus planos. Limitei-me a ir às aulas com ar esmagado com tamanha sapiência.
Enfim. Sócrates achou ser uma boa opção um académico para a Europa. Um senhor com credibilidade (a não ser para os senhores do PCP que lhe têm tanto ódio com ao ex-ministro da economia, Manuel Pinho, no seu ataque directo a Bernardino Soares), um senhor com ar de avô, um certo sorriso de galã, muita experiência de falar em público, nome sonante nos círculos do saber. Tudo isso é certo. Mas Sócrates esqueceu-se que essas eleições seriam preponderantes para todas as outras, que seriam resultados importantes. Mais que isso, Sócrates como engenheiro (?) que é, não teve aulas de direito, não sabia do jeito de Vital Moreira. Não previu pois o ar arrogante com o qual o Excelentíssimo professor nasceu. Não previu a falta de jeito para campanhas. E ele bem que tentou. Mas os sorrisos eram sempre amarelos, o contacto com as pessoas enjoados, como que se todas estivessem infectadas com a gripe dos porcos… Sócrates não podia adivinhar que tudo nele, numa campanha como aquela, era forçado. Que não conseguia vencer os adversários em debates, que não conseguiu chegar às pessoas… a minha avó que tem a quarta classe ainda me adiantou, em jeito de confidência, Ai filha eu sei que o senhor foi teu professor mas não lhe vou com a cara.
E de facto, nunca pensei viver para ver, o meu excelso professor, que não nos olhava nos olhos para evitar abusos de confiança, em ombros no mercado do porto, de braços levantados, com um ar aterrorizado de frete. Sócrates percebeu. Deixou para outros o destino do país, esqueceu-se que era primeiro-ministro e lançou-se, em autêntica ama-seca a comandar as hostes, numa esperança em milagres. O milagre não se deu. Sócrates ficou avisado… antes convidasse um dos seus professores engenheiros. Talvez tivesse mais jeito para a coisa.

Já o PSD ganhou mas, em meu entender, perdeu em credibilidade. Não demonstro aqui preferências partidárias nem ideologias. Mas não posso concordar com a imagem de Rangel, no discurso de vitória, de braços levantado. Rangel que mal se pronunciou acerca do futuro na Europa. Rangel que tentou humilhar adversários. Um Rangel suado, histérico, rodeado por autênticos putos mimados da JSD, também eles suados, também eles histéricos, que se esqueceram que se falava de politica e não de futebol e interromperam o líder de duas em duas palavras. Crianças mimadas que celebravam um vitória talvez sem saber sequer quais as propostas do líder, que falavam uns com os outros atrás dele, limpando de dois em dois minutos o suor. Um mau aspecto tremendo, uma falta de ética e de saber estar lamentável. Abespinhei-me. Porque tornamos democracia em palhaçada, em crianças e adolescentes que tinham mais mérito em estar em casa dos papas a jogar jogos de computador e a espremer espinhas. Foi feio. Foi triste.
Talvez por isso, quando Manuela Ferreira Leite surgiu a canalhada tenha sido afastada e surgiram atrás dela também um professor meu, com credibilidade e um pouco de solenidade que o momento exigia.
A política é uma palhaçada, bem o sabemos. Mas depois de 60% de abstenção, o justo vencedor não ter a noção do disparate em que incorria e do circo que os seus pupilos laçavam, foi custoso de se ver. Porque os 40% que se dirigiram à s urnas viram ali, em horário nobre, o resultado dos seus votos. Palhaçada.
E viva a democracia.

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