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segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Natal - BHAAAAA


Estou absoluta, incondicional e irremediavelmente deprimida. Deprimida ao ponto de me atirar da janela (não fosse este um rés do chão) comer chocolate (e não tivesse eu aqui tantos) e ficar de pijama o resto do dia.
A história é rápida e conta-se de um fôlego. Domingo, quase véspera de feriado, chove a cântaros, potes e picaretas e eu decido sair de casa. Na mente um destino específico com um claro objectivo: ir ao supermercado mais próximo e comprar papel higiénico, amaciador para a roupa, maçãs e uma lembrança de natal, simples e barata para dar à colega de escritório como presente do tradicional amigo secreto. Simples. Compras quer o normal português é obrigado a fazer. Nada que não se faça em meia hora.
Enfim. Mal ponho um pé fora de casa e uma bátega de chuva presenteia-me com o meu banho mensal. Quando chego ao Fórum (é mesmo a superfície comercial mais próxima de minha casa) estou encharcada mas relativamente bem-disposta. É que há luzes de Natal, uma música de Natal, um espírito natalício e cores de natal. E eu até gosto desta quadra.
No entanto, a minha boa disposição parece ser sol de pouca dura. Entro na primeira loja e sou, literalmente engolida por uma multidão de gente, que com um destino específico e uma missão clara remexe em prateleiras, roupa interior, cachecóis e sapatos, com um ar compenetrado de encargo a ter de ser feito. No ar uma musiquinha tipicamente natalícia que encharca o ambiente de sininhos e coisinhas. Na segunda loja que visito começo a ficar chateada. A mesma multidão a remexer em saleiros e pratos e velas, indistintamente, ao ritmo da musiquinha com os sininhos e coisinhas. Na terceira loja entro já irritada, respondo mal à vendedora que quer a todo o custo que traga para casa umas pantufas com 15% de desconto, (e que claramente eu nunca iria calçar) empurro a multidão que experimenta sapatos com o mesmo ar concentrado das lojas anteriores e praguejo em surdina para a musiquinha e os sininhos que me começam a dar cabo dos nervos. Desisto de entrar na quarta loja.
Dirijo-me então à parte do supermercado em si, preparada para comprar o meu papel higiénico e maçãs e amaciador para a roupa. Mas, mal entro, sou assoberbada por uma multidão que compra atum e salsichas e massa com o ar de quem tem necessariamente de gastar o subsídio de natal em dois dias. E não é que a porcaria da musiquinha com os sininhos e as coisinhas continua? Pior! Há centenas de chocolates, espalhados e colocados artisticamente entre produtos íntimos, frutas e vegetais e pastéis frescos. Quase desmaio com tanta cor (e o raio da musiquinha que não se cala). Perco-me. Fico doida, fora de mim perante a perspectiva de tanto açúcar. Quando dou conta estou especada em frente à prateleira dos enchidos a apreciar uns bombons cor-de-rosas e indecisa se os dourados não serão melhores, ao mesmo tempo que dou uma olhada ao preço do presunto.
Resultado: Demorei uma hora. Uma hora perdida entre prateleiras, brinquedos foleiros e putos a chorar e trouxe num saco colorido que achei bonito, com a cara de um gordo vestido de vermelho, uma caixa de chocolates embrulhados em papel cor-de-rosa, outra caixa dourada e uma caixa rectangular a deixar adivinhar bombons em forma de crustáceos. Não satisfeita, e perante uma indecisão de morte adicionei ao saco duas tabletes de um chocolate com amêndoas… e triste, o mais triste, uma caneca gigante com uns bombons que são claramente enjoativos mas que estão embrulhados num papel às florinhas. Do amaciador, das maças e do papel higiénico? Nada! Evidente que posso passar sem o amaciador e as maçãs até amanhã! Mas sem o papel higiénico depois de tanto chocolate? Tenho as minhas dúvidas.
E eu que até gostava do natal.

O que tem a televisão a ver com isto? Tudo! Sou presenteada todos os dias com uma hipopótama gorda a cantar rap, uma ave feia com o nome da minha tia a prometerem um dia de natal muito feliz rodeado de muitas compras. E essas ondas subliminares, que me obrigam a comprar presentes para pessoas desconhecidas, fazem com que o meu domingo e as minhas compras, tão simples e fáceis sejam de repente transformados em prova de obstáculos com pessoas a impedir-me a passagem, uma tentação de açúcar e a musiquinha a dar cabo dos nervos do mais santo! Ah a musiquinha!

P.S. Vejo um intervalo de um filme a passar num canal televisivo durante 10 minutos. Ouço 13 vezes a palavra natal, 6 anúncios de brinquedos, um anúncio a filmes de cinemas no natal, dois anúncios a campanhas de um supermercado no natal, 4 anúncios a chocolates, 6 anúncios de perfumes, 1 anúncio a uma emissão do canal televisivo que anuncia esperança. Mudo de canal, mais um intervalo: anúncio a dois filmes de natal, 7 vezes a palavra natal, 8 anúncios a brinquedos, 2 anúncios a perfume, um anúncio a supermercado com produtos de natal (exactamente o mesmo onde estive há minutos) e uma campanha de natal de um supermercado.
Descubro que a minha sanidade mental foi perdida de vez quando suspiro de alívio por ver o Cristiano Ronaldo a falar de um champô! Socorro!

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