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segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Natal parte 3 - Natal dos Hospitais


Num triste e frio Domingo à tarde, ainda no rescaldo do natal, com mais umas quantas gramas em cima (para não dizer quilos e ficar já deprimida) aqui estou eu, em frente à lareira, de computador nas pernas e a olhar para a Lolita com um ar de extrema admiração.
Um esclarecimento antes de mais: quem é a Lolita, que assim de repente, nos aparece a páginas tantas, vinda do nada? A Lolita é a televisão de casa dos meus pais, minha companheira de infância, aventuras e desventuras e que veio substituir a Sofia há uns dez anos. Ah! Como eu recordo a Sofia, uma televisão branca por fora, com uma antena em forma de tripé que abanávamos à procura de sinal e que reagia pacientemente aos nossos murros (principalmente os do meu pai) quando em dia de futebol se recusava a dar imagem…
A Sofia foi presente de casamento dos meus pais e durante uma dúzia de anos fez companhia cá em casa. A preto e branco durante muito tempo, empoleirada no móvel da cozinha recusava-se a apanhar sinal de outro canal que não a RTP1. Uns anos mais tarde, decidiu-se a passar então os outros três canais e deu-me a possibilidade de assistir a programas fantásticos como o Big Brother e outros. Mal sabia a Sofia que o facto de terminar com a birra e permitir-se a mostrar outras estações televisivas seria o fim dela, comigo sempre a mudar de canal, rodando o respectivo botão (não havia cá comando remoto, prenúncio de modernidade) de cinco em cinco minutos.
A substituí-la veio então a Lolita e Libório, a primeira para a cozinha e o segundo para a sala, sempre em incursões até ao meu quarto quando cá venho. E claro, ambos de outra geração, fizeram-se acompanhar das respectivas cores, dos respectivos comandos, sempre prontos e afáveis, decididos a transmitir os quatro canais e até mais se assim houver vontade. No entanto, não obstante ambos serem fiéis amigos, suportando os meus momentos de tédio que me assolam na aldeia, sorrindo e aguentando todas as minhas birras e impaciências em nada se comparam à Sofia, que terminou triste, como monte de sucata no meio do ferro velho e coisas feias na oficina do meu pai, ainda branca, com a antena de tripé reduzida a nada. Paz à sua alma. Longa vida no céu das televisões amiga!!!
E lembrei-me agora da Sofia, com a nostalgia do Natal porque foi nela que vi durante toda a minha infância esse icónico e deslumbrante programa chamado “Natal dos Hospitais”, e que hoje está a passar em repetição na RTP1. Era sem dúvida o programa do ano em família, com os meus pais e os meus avós às vezes, sentados em frente à Sofia, a ver cantar gente fantástica e bela, com passos ensaiados para gente triste e doente. Cantávamos em conjunto, em ares de pessoas inteligentes que sabiam a música da moda. Ah que saudades desse tempo. Foi graças a esse culto programa que vi crescer pessoas lindas como Rute Marlene, sempre despida, sempre loira, sempre com os mesmos passos, ou Romana que me presenteia neste momento, com o mesmo cabelo de há anos, os mesmos gestos e o mesmo tipo de música. A minha cultura pimba deve tudo ou praticamente tudo a este programa e estou agradecida por isso.
Não posso crer no quanto aprendi, das vezes que vi heróis de infância, garbosos e galantes, como José Alberto Reis que ainda há bocado me fez, em serenata triste, relato de uma música melancólica e mórbida. Não liguei sequer ao comentário da minha mãe (olha este ainda é vivo?), sem sentimentalidade. Claro que o homem é vivo, sempre igual. Pergunto-me às vezes se esta gente quando se olha ao espelho não se assusta por cantar as mesmas coisas e ser igual há dez anos atrás. Pessoas morreram, pessoas nasceram, o mundo mudou, é permitido as pessoas do mesmo sexo casarem-se (ou quase permitido). Uma revolução de mentalidades e esta gente, sempre igual, sempre sentimentalonas, sempre sem graça, não muda! Que deprimente.
Agora tenho o prazer de ouvir Luís Filipe Reis, com um fino e sempre na moda conjunto de casaco e calça de veludo branco. Mas também há novidades, como esta Magui, que com um cabelo longo e mal pintado, com as raízes pretas a contrastar com o cabelo loiro oxigenado, um vestido dourado e a gritar a plenos pulmões “Change” (evidentemente que todo o português médio, que assiste a este programa sabe o que quer dizer Change).
Mas pára tudo!!! Neste momento Leandro, com um fatinho preto a duas bailarinas atrás canta com voz melancólica qualquer coisa que me recuso a ouvir, por me tocar no coração com veludo e na alma. Diz ele que pode dar o corpo a outra mulher mas o coração será sempre meu (dela, neste caso). AH! Que coisa linda. A minha dúvida de sempre e que me coloca em questões existenciais é o porquê das bailarinas atrás, com um vestido fenomenal de lantejoulas, com passos nada forçados mas bastante fluentes e bem executados. Porque isto até podia ter um pouco de credibilidade mas com aquelas duas, lá se vai tudo. Eu como fã deste homem roo-me de ciúmes. Que promessas são as dele, de que pode dar o corpo a outras mulheres mas o coração será meu? Com aquelas duas atrás, vai coração, alma e tudo, olha que belo.
E pronto, lá vai todo um sem número de artistas com tamanha qualidade que me faltam as palavras… Desde Marco Paulo com os braços abertos, a Ágata, a uns fulanos que dizem que não me levam à América, Emanuel… Enfim, estou extasiada com tanta categoria. Faltam-me as palavras!
Só tenho mesmo fôlego para uma constatação: se este marejar de artistas portugueses arrancarem sorrisos a pessoas que sofrem naquele hospital, então perdoem-me estas críticas tão suaves e continuem assim. E a Lolita que me perdoe por ter de transmitir tanta qualidade. Dias não são dias.

P.S. – E agora, que são horas de jantar, afasto as batatas fritas e a carne da frente da mesa e ponho-me em histeria completa, com ares de doida pronta a arrepelar cabelos, louca, estouvada porque o meu Ídolo Micael Carreira, esse Grande da música, com a voz forte e sonante, com um movimento de ancas inigualável (o homem podia perfeitamente dar à luz sem necessidade de aulas de parto) encanta-me com uma música belíssima. Estou tão histérica que a minha mãe pensa, tenho a certeza, em dar-me as estaladas que me devia ter dado em criança. Mas sejamos francos, ninguém aguenta tanta qualidade! AIIIIIIIIIIIIIIIIIIII. (Tirem-me daqui.)

1 comentário:

  1. em primeiro lugar uma pequena correcção...nao é luis filipe carvalho, mas luis filipe reis...a tua cultura musica pode ser de grande categoria, mas não te chega para alcançar a minha...é assim, eu sempre tive televisão a cores, é natural..:) até porque são muitos anos a frequentar balhos, que é o mesmo que dizer concertos fenomenais:)
    mas numa coisa concordo, o natal dos hospitais é uma escola, sem duvida, apesar de todas as imitações que tentaram fazer, não há igual, né?...
    Por fim, quero acrescentar que o carreira junior é o homem da minha vida, é que além de cantar pior que eu, o que é dificil e assim posso sobressair, tem umas ancas magnificas, o que sugnifica que quanto a filhos não me tinha que preocupar que ele tratava disso sozinho:) é assim que te declaro guerra na luta por um lugar ao lado dele, só temos de dar dois murros à floribela e depois a corrida é entre nós:)

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