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segunda-feira, 23 de março de 2009

Atreve-te a estar calada


Hoje é segunda, dia 23 de Março de 2009. Finalmente é segunda-feira e posso recomeçar a minha vida. Não de todo normal porque pressinto que devido ao traumatizante fim-de-semana por que passei, o meu cérebro tenha ficado com lesões irreversíveis. Mais do que aquelas que já eram evidentes.
Ontem pensei que não mais seria normal. Não fosse o conta-me como foi na RTP1 e teria dado de vez em maluca. A tarde foi simplesmente um festival dos horrores, desde programas que não lembram ao menino Jesus na tv record, a filmes ultrapassados em todos os canais generalistas. Cheguei ao cúmulo de ver os caça fantasmas no Holliwodd.
Mas o pior de tudo foi á noite depois do conta-me. Feliz e contente depois de mais um episódio da minha série favorita, numa ingenuidade louca e num esquecimento rápido, pensei que os outros canais conseguissem apresentar algo, no mínimo, com a metade da qualidade. Triste engano.
O programa de todos os tormentos apelida-se ATREVE-TE A CANTAR, e é apresentado por essa senhora da televisão: Bárbara Guimarães. Quem numa primeira fase não se aperceba do nome de tal show, é mimoseado ao longo de uma hora, 60 minutos Meu Deus, com todos os trocadilhos acerca da palavra atreve-te.
Em cada programa há um tema que a querida Bárbara, com uma voz potente e gestos ensaiados vai desenvolvendo enquanto os concorrentes cantam músicas de Karaoke. Enfim. O programa típico de entretenimento, sem nenhum tipo de conteúdo! Confesso que até poderia ser saturável, não fossem as expressões magníficas, de pura sabedoria e sensibilidade, sentimento e melindrice que a apresentadora nos presenteia.
Vejamos. O tema de ontem era a primavera. Foram seleccionados um senhor e uma menina. O senhor foi eliminado e com toda a poesia e erudição Bárbara lança a seguinte frase: continue assim com “as raízes profundas do seu coração”. Fiquei comovida. Qual Fernando Pessoa, qual Miguel Torga! Numa segunda eliminatória a poetisa volta a declamar : foi uma rosa de alegria, nunca deixe murchar esse atrevimento. Nesta frase mais elaborada, Bárbara demonstra-nos a sua sensibilidade que completa: não há amor sem flores, nem paixão sem frutos. Minha querida. Isso era um trocadilho? Que malandrice! Pois não sabe que é possível haver paixão sem frutos? Ou é uma seguidora convicta das ideias do nosso querido e avançado papa? E por falar em trocadilho, com um ar cúmplice a apresentadora diz: É só um bárbaro conselho! Bárbaro, perceberam? Dito pela Bárbara! Lá está! A erudição.
Para completar, a pérola das pérolas: tudo isto é Primavera, tudo isto é inspiração! Como se alguém duvidasse que tanta sapiência não fosse inspiração dela! O engraçado é que não me lembro destas tiradas no programa chuva de estrelas! Terá aprendido com o marido? Talvez! Só alguém da política consegue semelhante feito!!!

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