Páginas

sábado, 21 de março de 2009

A mais desgraçada desgraça da televisão: um anuncio da rdp


Deixando de lado os porquês da minha decisão deste novo blogue (o último foi acerca de momentos tortuosos de uma depressão – se bem que duvido seriamente que este também não seja tortuoso) quero afirmar desde já que grande parte dos meus comentários serão acerca desse canal generalista de grande qualidade: a tvi! E mais especificamente, acerca das noticias fabulosas que por lá são noticiadas. Mais do que isso, a forma como nos são transmitidas!
Vamos por partes. Quando anunciaram o tvi 24 o meu coração disparou. Vinte e quatro horas seguidas de televisão da melhor qualidade, com gente bonita aos gritos sobre horror, os gatunos, os terramotos e a peste, os gafanhotos e a horta estragada do ti Zé, a chuva que o Governo manda no Verão, o sol que estraga a neve no Inverno (por culpa evidente do Governo, que não suborna decentemente o São Pedro)! São vinte e quatro horas seguidas, repare-se VINTE E QUATRO horas, do mais puro e melhor entretenimento. Nenhuma sala de cinema consegue passar nas suas entranhas tamanha qualidade, tamanha desfaçatez. Fiquei histérica! Completamente histérica. E depois, quando uma semana antes o almejado canal colocou, ao jeito das obras pólis, um painel a dizer faltam quatro dias, doze horas e vinte e dois segundos, pensei morrer de tanta emoção. Na estreia lá estava eu, colada ao televisor, numa vontade enorme de entrar para as suas profundezas e abraçar com todas as minhas forças tão almejado canal. Obrigado Senhor por tamanha alegria.
No entanto até hoje não voltei a olhar com olhos de ver. Porque sinto medo de não aguentar o baque. Repare-se que faço o sacrifício de ver meia hora por dia de notícias televisivas no tvi generalista. E dá-me uma dor profunda em todo o peito por tanta qualidade artística. Se fosse olhar para vinte e quatro horas de tamanha amostra teria um ataque cardíaco de certeza.
Mas não nos desviemos do assunto que me traz cá hoje e que serve de título a esta crónica: um anúncio de televisão. O drama e o horror noticiado por Manuela Moura Guedes devido ao facto da democracia nacional estar totalmente abalada por um anúncio protagonizado pela RDP acerca de uma manifestação que juntou 200 000 portugueses. O caso é simples. Um senhor vai no carro e liga para um fórum de rádio. Durante a conversa a locutora diz-lhe para não ir por certa estrada devido ao facto de ela estar cortada. O senhor pergunta-lhe porquê e ela fala da manifestação. Contra quem? Diz o homem? Ao que a locutora responde: Desta vez parece que é contra si!
Nada de mais. Quer apenas demonstrar que devido às manifestações, greves e outras demonstrações públicas de revolta nacional, muita gente vê as suas tarefas diárias irem por água abaixo. Apenas uma outra maneira de ver a coisa. Nada abalador da democracia! Porque a democracia funda-se nisso mesmo: na liberdade de ver as realidades, no facto de todos os prismas poderem ser abraçados. Às vezes, com a necessidade absolutamente forte de se tentar ser democrático cai-se no extremo oposto, condenando tudo e todos que não o são.
O que me encantou na notícia foi a forma absolutamente encantadora como foi dita. A expressão da Manuela com beicinho, o ar totalmente revoltado dá-me náuseas. Porque se há alguma coisa que a tvi goste de demonstrar no seu espaço noticioso é a forma como faz televisão imparcial e limpa defendendo os pobrezinhos. Coitadinhos dos pobrezinhos que são pobrezinhos! Outra coisa que também faz é sentir-se atacada por todos, como se fosse a profeta do novo tempo, a imparcial, a única voz da verdade e como tal o alvo a abater. Quer-me parecer que se for efectivamente o alvo a abater é por tudo menos pela sua forma profissional de fazer jornalismo.
Para concluir, ainda quanto ao abalo da democracia, não quero desde já pronunciar-me acerca de greves e manifestações mas apenas deixar o recado que tão sabiamente um dos seguidores deste blogue (vizeu) me disse: Se a senhora dona Moura Guedes quando decidiu fazer a operação ao rosto, a visse ser adiada pela décima vez porque o médico estava em greve, talvez tivesse outra ideia acerca dos abalos e dos rombos à democracia. Antes de se falar em constitucionalidade e encher a boca (já de si grande) com palavras de direito, desça-se à terra, sem dramatismos nem fatalismos. Transmissão da notícia tal como ela é! Para isso serve o jornalismo!

Sem comentários:

Enviar um comentário