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segunda-feira, 30 de março de 2009

A tristeza do empate



Desde já declaro que fico triste se Portugal não for apurado para o mundial de futebol. É verdade. Não se pense que é devido ao mero facto de ficar com o orgulho diminuído ou porque já comprei a bandeira (feita pelos chineses e que portanto está toda errada) para pendurar no quintal. Não. Primeiro porque o meu orgulho (?) de ser portuguesa extravasa, vai muito para além de, não tem mesmo nada a ver com um campeonato de futebol. O meu orgulho de ser portuguesa relativamente ao desporto centra-se todo nos para olímpicos, que pouco ou nada são falados e que com pouco apoio e as respectivas limitações têm resultados fantásticos. Vai também para atletas como Vanessa Oliveira por exemplo, que com humildade e modéstia fazem o que têm a fazer, sem nada lhe subir à cabeça. Segundo, porque acho ridículo termos todos a bandeira à janela quando muitas das vezes não se sabe o que significa, nem minimamente o hino de Portugal.
Mas fico triste se Portugal não for ao mundial e isto porque a alternativa dos nossos telejornais é passar a crise económica das 20 horas às 21 nos canais generalistas, da meia-noite à meia-noite nos canais por cabo. Portanto, agradecia aos heróis nacionais, aos tipos que ganham a massa para marcar golos, aos homens que para correr atrás uns dos outros têm mais pilim do que pessoas que salvam a vida a outras, que façam alguma coisa, melhor que façam a única coisa que sabem fazer, ou que pelo menos deviam.
Repare-se que um funcionário que não apresenta resultados é despedido, um médico que comete erros é processado por negligência médica, um advogado que perca casos fica sem clientes. O próprio primeiro-ministro se não agradar não é eleito (a não ser claro no país fantástico que é Portugal). Mas os nossos ídolos, se não marcam, coitados acontece, pobrezinhos já basta o desgosto deles, porque coitadinhos fizeram tudo o que podiam, sofredores, basta bem o castigo que corre dentro deles.
Como não tenho paciência amigos, corram na proporção do dinheiro que ganham e façam alguma coisa. Ou o melhor jogador do mundo só é bom quando tem ao lado jogadores igualmente bons? Isso não é mérito! No, no! Será que esses senhores não se apercebem que movem emoções de milhares de pessoas, que movem milhares de euros e que deviam fazer alguma coisa? Que as desculpas sem sentido já são mais que esfarrapadas?
No entanto, se os nossos telejornais se comprometerem a dar ao atletismo, ao judo, à natação, ao voleibol e aos outros desportos o tempo de antena que dão a esse desporto que é o futebol, então quero lá eu bem saber que os heróis nacionais não saiam do país para representar as cores de uma bandeira que não é de todos (hoje ouvi um jogador da selecção com sotaque brasileiro). Se fico triste pelo não apuramento é porque a alternativa são as notícias de desemprego, drama e horror. Ora entre sangue e circo que venha lá o circo!

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