Páginas

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Greve em tempo de aulas! A minha triste experiência.


Hoje à hora do almoço decidi, num impulso inédito ver o telejornal. E digo num impulso inédito porque a hora de almoço para mim é dedicada a anatomia de grey, na fox life. No entanto, como seria a décima quinta vez que ía ver o episódio de hoje, inovei e decidi inteirar-me das noticias nacionais. Muito boa ideia. Fiquei com material para escrever que não acaba.


A noticia que mais me fez rir a bandeiras despregadas foi aquela em que os estudantes do ensino secundário sairam à rua em greve. Ah! Como eu recordo os meus tempos de estudante secundária! Que melancolia e nostalgia de ir a todas as aulas, no tempo em que ainda havia faltas e cartas para casa e chumbos por faltarmos a um certo número de aulas.


Em todo o meu percurso académico, que foi longo e não há maneira de acabar, fiz greve uma única vez. Pois é, meus senhores, que todos temos telhas de vidro e pecados a apontar. Andava no sétimo ano, estava um dia feio de inverno e cheguei à escola com a mochila pesada de livros e duas colegas já aos doze anos reaccionárias. A escola estava fechada e eu, que na minha inocência (e com medo de apanhar nas trombas quando chegasse a casa) me preparava para abrir os portões e entrar, fui apupada num coro de protestos, desde gorda graxista, a miuda parvalhona que te dou cabo do focinho se entrares. Fiquei cá fora, encolhida atrás dos outros, numa indecisão inquieta... apanhar porrada em frente a todos, ou quando chegasse a casa? Achei que a segunda opção era menos humilhante, porque econdida no recôndito do lar, e fui atrás dos outros, em marcha lenta até à vila, com cartazes improvisados, muitas risadas e gritos nada ensaiados. Foi um dia feio, com as costas a arder por causa da mochila cheia, escoltada por dois tipos grandes (que hoje em dia trabalham nas obras, têm dois filhos de cada mulher e embebedam-se como passatempo diário) que ameaçavam pontapear-me em praça pública se voltasse para trás.

E eu, que tinha doze anos não percebia que os meus ilustres colegas queriam nada mais nada menos que Educação Sexual nas escolas. Esse hino reivindicativo que os jovens lançam como bandeira agreste! Queremos saber o que é sexo! Somos tristes e infelizes que não temos internet, nem televisão. E repare-se que naquele tempo não havia mesmo internet ao acesso de todos, e os morangos com acuçar só mesmo como sobremesa. Mas sabiamos tudo sobre sexo (a não ser talvez eu, que tão ingénua só soube muita coisa na faculdade, essa escola da vida). Vistas bem as coisas, eu devia ser a primeira a reivindicar porque era talvez a mais ignorante no assunto, corando em beijos ardentes nas novelas e não percebendo já as piadas dos meus colegas mais espigadotes.

Adiante. À hora de almoço, como a fome apertava e maior parte de nós não tinha dinheiro, voltamos para a escola, molhados da chuva que entretanto começara a cair, com os cartazes feitos em lama e as vozes roucas e, em fila indiana, como meninos educados dirigimo-nos à cantina onde o comer era, se não me falta a memória, um peixe assado com batatas duras. Foi a minha primeira e única experiência com a greve. E fui tão coagida a fazê-la que hoje abomino greves e miudos mimados.

E hoje, muitos anos sobre aquele tempo de verdadeira greve uma moçoila, com cerca de 18 anos dizia que na televisão que "pá, as gravidezes na adolescência, pá! Temos que ter educação sexual porque pá, sem isso a gente não sabe". Santa paciência que não tenho. São tão infelizes os nossos adolescentes. Tão mal informados sobre o assunto, tão escondidos em tabus que não sabem o que seja preservativos.


Ah, e porque agora me lembrei, naquele dia fatidico da minha experiência de greve, à hora de almoço fui procurar o professor de geografia, que nos devia dar aulas de manhã e pedir-lhe por todos os santos para me desculpar. Agora que penso nisso, era um pouco betinha! E quando cheguei a casa, morta de dores de costas e fome e medo, e contei à minha mãe lavada em lágrimas da minha pseudo greve, vá-se lá entender as mães, em vez de me bater, abraçou-me e foi à escola dizer à directora de turma, para controlarem os miudos sem educação. E esta hem?


Sem comentários:

Enviar um comentário