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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Família Família e a minha fase dread - Anabela esta é para ti


“Família Família” é daqueles programas que nos fazem sentir vergonha só por estarmos a ver. Nesta noite chuvosa de Sexta-feira, aqui na aldeola sem mais que fazer se não agarrar-me à Lolita, vejo pela primeira vez, com um pouco mais de atenção do que o programa merece, esse espaço televisivo chamado Família Família, onde famílias se reúnem e prestam provas musicais e de dança numa tentativa de ganhar. Confesso ainda, que sendo a primeira vez que vejo o programa e apanhando-o a meio, não sei ainda qual será o prémio tão fantástico que leva gente normal a sujeitar-se a tamanho vexame e vergonha. Deduzo que seja alguma coisa muito boa.
Hoje estão em guerra a família Guerra contra a família Proença. Cada núcleo familiar sujeito à vergonha tem uma miúda pequena. E as pobres coitadas, não devem entender na certa que fazem ali. Existem também dois homens adultos que embora sorrindo, quando virem as gravações se devem arrepender de morte de se sujeitarem a tal.
A apresentar está essa senhora da dança Sónia Araújo. Porque confesso que a admiro na sua dança, não já na sua apresentação. Lembro-me dela miúda e loirita, insonsa e sem graça, a apresentar a praça da alegria, com muita falta de jeito e ao lado de um Luís Goucha de bigode. Passaram mais de quinze anos desde então. Luís Goucha cortou o bigode e mudou de canal, a praça mudou de formato, Sónia Araújo pintou o cabelo e já não é miúda. Mas na minha opinião continua insonsa, sem graça e nenhuma ponta de jeito.

Como jurado do programa está Pacman, elemento do grupo Da Weasel. E aproveito aqui, agora que o vi e me fez lembrar da minha adolescência para revelar os meus tempos em que era fã dos Da Weasel, tinha posters deles colados dentro do armário (a minha mãe proibiu que desse cabo da pintura do quarto com fotografias de tipos cabeludos e mal vestidos – nas palavras dela) e ouvia música deles em altos berros quando estava sozinha em casa.
Todos nós temos uma fase da vida em que por estupidez própria queremos de alguma forma esquecer. A minha, que tento pôr escondida em memórias difusas foi na altura dos meus 13 – 16 anos. Nesses áureos tempos eu decidi com toda a força que as raparigas eram chatas e que devia vestir-me a rapaz numa tentativa infrutífera de me confundirem com um deles. Estavam na moda as calças de bolsos, largas e grosseironas que tinham os fundilhos no joelho. Quem da minha geração não se lembra da moda em que os rapazes mostravam com orgulho os boxers, num medo eminente que as calças caíssem? O expoente máximo dessa moda na minha turma era o Miguel, loiro e de olhos azuis, que caminhava de tal modo torto por causa das calças que um dia o professor de História, barrigudo e triste, sem ligar às modas, ameaçou puxa-las de vez.
Eu com todo o desgosto da minha mãe que ansiava por me ver de saia, vestia essas calças acompanhadas de grandes t-shirts e sweatshirts, e um horroroso boné do Benfica, com a pala para trás. Eram momentos tristes, em que conjugava a moda à minha maneira, com umas fitas multicoloridas na cabeça, a condizer com a camisola. Os ténis grosseirões faziam a festa, e houve uma vez, muito, muito distante, em que tentei convencer a minha mãe a fazer um piercing na sobrancelha e no nariz, uma tatuagem no pescoço e rastas, tudo de uma só vez. Ela olhou-me com desdém e perguntou se pretendia morar no galinheiro. Até hoje acredito que tem pesadelos de mim a chegar a casa com múltiplos brincos e tatuagens foleiras. Só não sonha com as rastas porque não sabe o que isso seja.
O ponto alto da minha vestimenta e da moda estranha, das camisolas onde cabiam sete como eu e das calças quase a cair junto aos ténis grosseiros deu-se quando eu fiz o crisma e tive uma discussão tremenda com a minha mãe. Hoje entendo que ela só não queria passar vergonha em frente à restante família, uma vez que a perspectiva de me ver ajoelhar em frente ao Bispo com uma boina vermelha com a pala para trás era demasiado atroz. Mas na altura, quando vi a saia que ela me obrigou a levar amuei durante três dias e afirmei convictamente (até o meu pai levantar a voz e acabar com o amuo) que não ia fazer crisma nenhum.
Foram estes os meus únicos momentos de rebeldia. Mas a minha mãe ameaça sempre que se lembra da humilhação sofrida ao ver a única filha com roupas de pedinte, contar aos netos as pisadas da mãe, numa vingança premeditada. E eu, com medo, queimei todas as fotografias da época. Sobrou apenas uma que escondo muito bem escondida, ao lado das fitas e da única t-shirt existente.
Há uns tempos atrás, tive a possibilidade de conhecer uma rapariga, também filha única, com quem me identifiquei em muita coisa. O ponto alto da nossa amizade deu-se no dia em que descobri que também ela se vestiu da mesma forma. Hoje, somos as duas licenciadas em Direito e trabalhamos num escritório de advogados. Não seria lindo aparecermos um dia no trabalho com tais roupas?

Como última nota resta dizer que, não obstante ter deixado a roupa atroz para trás quando cheguei ao décimo primeiro ano, a minha admiração pelos Da Weasel continuou até ao primeiro ano da faculdade, altura em que na minha primeira queima os vi ao vivo e descobri que o PacMan tinha barriga e eles cantavam desafinados. E hoje, vejo esse ilustre que me levou às loucuras descritas, a avaliar crianças a cantar desafinadas e pais e dançar desajeitadamente. Sinto-me velha.

1 comentário:

  1. Também já passei uma noite de sábado a ver esse programa da Sóninha Araújo. Não estava a dar mais nada que prestasse e estava cansada de fazer zapping. Realmente é intragável :)
    Quanto à minha fase dread, sim, também me vesti assim, só não tinha o boné. Preferia andar com o meu rabo de cavalo à solta! Eu era t-shirts por cima de swet-shirts, era calças largas com bolsos e fechos, eu era toda sapatilhas e mais. Eram sapatilhas 2 e 3 números acima do meu :) Ah coisa mais fantástica Anabela

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